quinta-feira, 7 de abril de 2011

Estou envelhecendo

Oraçao feita por uma monja inglesa do século XVII


Senhor,


Sabes melhor do que eu que estou envelhecendo


e que, mais dia menos dia,farei parte dos velhos.


Guarda-me daquela mania fatal de acreditar


que é meu dever dizer algo a respeito de tudo e em qualquer ocasião.


Livra-me do desejo obsessivo


de por ordem nos negócios dos outros.


Torna-me refletida, mas não ranzinza,


serviçal, mas não autoritária.


Acho uma pena não utilizar toda a imensa reserva de sapiência


que acumulei por longos anos,


mas bem sabes , Senhor,...


faço questão de conservar alguns amigos.


Segura-me quando eu começar a desfiar detalhes que não acabam mais,


dá-me asas para ir direto ao fim.


Sela meus lábios acerca de minhas mazelas e doenças,


embora essas aumentem sem cessar,


e, com o passar dos anos, me dê certo prazer enumerá-las.


Não me atrevo a pedir-te


que eu chegue até a gostar de ouvir as outras


quando desenrolam a ladainha dos próprios sofrimentos,


mas ajuda-me a suportá-las com paciência.


Não me atrevo a reclamar uma memória melhor,


dá-me porém uma crescente humildade,


e menos suscetibilidade,


quando a minha memória esbarrar na dos outros.


Ensina-me a gloriosa lição


de que pode até acontecer que me engane...


Tome conta de mim.


Não é que eu tenha tanta vontade de ficar santa


(com certos santos é tão difícil ficar junto!)


mas um velho, além de velho amargo,


é com certeza uma das supremas invenções do diabo.


Faze-me capaz de ver algo de bom


onde menos se espera,

e de reconhecer talentos,


em gente na qual estes não se percebem.


E dá-me a graça de proclamá-los.


Amém

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